“Podem faltar medicamentos para os pacientes”, alerta o HSDS

Em uma coletiva de imprensa convocada na manhã desta sexta-feira, 11, a direção administrativa e corpo clínico do Hospital Salvatoriano Divino Salvador apresentaram uma forte preocupação com a disponibilidade de recursos para enfrentar a nova onda da pandemia de Covid-19. A terceira onda já pode ser visível na região da AMARP, com a curva crescente de pessoas positivadas nas últimas semanas.

De acordo com o diretor-administrativo André Ragnini, o aumento de casos de contaminação acompanha um cenário de dificuldade dos hospitais de todo estado para adquirir os medicamentos do chamado “Kit Intubação” e outros. “A situação é delicada em todo o Estado e talvez sejamos o primeiro hospital a falar sobre isso publicamente em Santa Catarina: podemos ter que enfrentar uma nova onda sem os insumos para o atendimento. Por enquanto, ninguém está desassistido, mas o aumento expressivo do número de casos e de internações podem prejudicar o atendimento. Existe muita dificuldade para encontrar a medicação e, quando encontramos, o valor é realmente absurdo. Em algumas semanas, nossos custos com medicação chegam a 100 mil reais”, explica.

Na data de hoje, 11, os 10 leitos de UTI do HSDS para pacientes Covid estão ocupados, sem previsão de alta. Dos outros 10 leitos de UTI Geral da instituição, 8 estão ocupados com pacientes pós-Covid. Quatro outros pacientes Covid estão intubados na emergência, aguardando leito de UTI, seja em Videira ou no Estado, sendo que dois esperam pela vaga desde quarta-feira, 9. Na enfermaria, 16 pacientes Covid seguem internados e podem, em qualquer momento, apresentar a necessidade de transferência para a UTI. Segundo o boletim emitido pelo Comitê de Gestão Preventiva na quinta-feira, 10, Videira possui 631 casos ativos de Covid-19 e 32 internações, sendo 13 em UTI. A doença já vitimou 103 videirenses.

Com o avanço da terceira onda, cresce também a demanda pelos medicamentos utilizados para a intubação do paciente. “Nós temos que adequar a sedação dos pacientes ao que temos de medicação em estoque. Temos conseguido suprir até agora com muito esforço, mas não há reposição o suficiente para atender a demanda de reposição. Os sedativos estão escassos e os pacientes de UTI precisam de três sedativos diferentes. Explicando brevemente: um deles é para dormir, outro para não sentir dor e o terceiro é para relaxar o paciente para que não interfira na movimentação da máquina para respiração. Estes três medicamentos estão muito escassos. E se o paciente não for sedado da maneira ideal, o tratamento demora ainda mais, ou seja, vai haver mais demora ainda para liberar esse leito de UTI”, explica Dra. Sara Hilgert, coordenadora da UTI do HSDS.

E como se isto não fosse o suficiente, ainda existem as consequências da Covid, que exigem tratamentos com antibióticos que também estão escassos. Dra. Sara explica que uma bactéria chamada KPC está espalhada pelos serviços de saúde. A KPC é uma superbactéria resistente à maioria dos antibióticos. “Ela só é tratada com um antibiótico, que também está em falta no mercado. Então, vai chegar uma hora em que não vamos ter como tratar os pacientes. Não é por falta de esforço, não é por falta de tentativas de compra, mas porque faltam bases para produção desses insumos na indústria”, salienta Dra. Sara.

Cirurgias canceladas

A preocupação ainda vai além. De acordo com a diretora técnica do HSDS, Dra. Milena Quirino Gomes, a falta de medicação e de disponibilidade de compra compromete as cirurgias. “Todas as cirurgias que precisam de anestesia geral foram canceladas mais uma vez. Ainda fazemos cirurgias de doenças graves e urgências, ou aquelas que podem ser realizadas com anestesia local ou bloqueio, entretanto, estamos protelando várias cirurgias importantes há um anos! São pacientes que precisam de uma cirurgia bariátrica ou que tem as populares pedras na vesícula, por exemplo, que não podem ser operados porque falta medicação!”, explica Dra. Milena. A ocupação dos leitos e a procura maior pelo atendimento de casos de Covid também contribuem para o cancelamento das cirurgias.

Perfil dos pacientes

A enfermeira Daivana Kunz, coordenadora do CCIH, destaca que ao contrário do início da pandemia, quando os pacientes eram idosos e com comorbidades, as novas variantes contribuíram para que o perfil mudasse. Hoje, o Hospital recebe muito mais pacientes com idade abaixo de 60 anos, além de receber casos até mesmo de menores de 20 anos e bebês. “Além dessa mudança de idade, vemos que os quadros de hoje evoluem muito mais rápido do que antes. Temos pacientes que chegam hoje com 20 ou 25% do pulmão comprometido e em dois ou três dias já tem um quadro de 70% de acometimento pulmonar. Já tivemos pacientes que evoluíram para quadros graves cerca de quatro dias depois de positivarem. Antes, conseguíamos receber um paciente na emergência e já colocá-lo na UTI. Hoje não! Antes, havia vários casos em que uma pessoa da família pegava Covid e os demais passavam bem. Hoje todos da família positivam porque as novas variantes tem uma taxa de transmissividade muito elevada, diferente do que era lá no início”, destaca a enfermeira. Com a maioria das contaminações ocorrendo dentro do ambiente familiar, o lar, porto seguro da população, se tornou o principal foco de transmissão. 

Reforçando o pedido para que a população pratique o distanciamento social e evite reuniões e aglomerações, a coordenadora assistencial Marlene Perazzoli aponta que os colaboradores do Hospital partilham do medo da falta de insumos. “O que mais nos preocupa é o caso de chegar um paciente com falta de ar e a única coisa que podemos oferecer é o oxigênio. Sem medicação, não existe tratamento e os nossos colaboradores são humanos também, logo, diante de uma situação como esta eles podem entrar em desespero por não ter o que fazer. Vários colaboradores desistiram da área da saúde durante esse período de pandemia. Muitos não suportaram esse tipo de pressão, de não saber até quando vamos continuar, até quando vamos aguentar. Nossa maior alegria, hoje, é devolver aquela pessoa que passou pela Covid aos seus familiares e à sociedade, e temos uma equipe muito disposta para enfrentar essa situação. Alguns de nós chegaram a cancelar suas férias para não deixar as pessoas sem assistência. Por isso, expressamos uma imensa gratidão aos colaboradores e pedimos que a população siga se cuidando o máximo possível para evitar o colapso do sistema e das pessoas”, destaca Marlene.

Como você pode ajudar

Expresse sua gratidão aos profissionais da saúde usando máscara, mantendo distanciamento social, usando álcool gel e seguindo todas as orientações preventivas. A terceira onda vem acompanhando o início do inverno, portanto, não espere: aos primeiros sintomas, procure a UPA para fazer o teste e colabore com a sociedade. Se testar positivo, cumpra o isolamento como forma de proteger a si mesmo e sua família. Evite que o sistema de saúde entre em colapso e não que vidas sejam perdidas por desassistência fazendo a sua parte.

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